Mais Vozes LGBT+ na Política

O eleitorado brasileiro exige novas vozes na política, e um exemplo disso foram os resultados das eleições de 2022, se firmando como um marco significativo para a comunidade LGBT+ no Brasil. Candidaturas LGBT+ demonstraram um rendimento eleitoral notável, alcançando em média 30% mais votos em suas campanhas, comparadas a candidaturas não-LGBT. Essa performance não apenas reflete a demanda do eleitorado por novas vozes na política, mas também revela um potencial estratégico para os partidos políticos.

O sistema de financiamento público de campanhas no Brasil está intrinsecamente ligado aos votos recebidos pela legenda. Sob uma ótica da eficiência, partidos deveriam alocar mais recursos para candidaturas LGBT+, visando maximizar votos e, consequentemente, aumentar o financiamento na eleição seguinte. No entanto, a realidade tem sido bem diferente. Nas últimas eleições municipais, as candidaturas LGBT+ receberam em média apenas 6% do teto de gastos, frequentemente alocadas nos momentos finais da campanha, dificultando a aplicação e efetividade do recurso.

Apesar dos obstáculos e da sabotagem dos partidos, as candidaturas LGBT+ emergiram como o grupo sub-representado que mais cresceu em 2022, dobrando sua participação nas casas legislativas. Só que este sucesso foi alcançado muitas vezes apesar dos partidos, e não por causa deles. Esse cenário demonstra a criatividade das lideranças LGBT+ e suas equipes, mas também aponta para a necessidade urgente de mudanças estruturais no apoio partidário.

Olhando para 2024, o VoteLGBT, em parceria com a ANTRA, está conduzindo um levantamento abrangente de pré-candidaturas LGBT+ em todo o país. O objetivo é demonstrar aos partidos, que realizam suas convenções em julho, a força dessa mobilização histórica para as eleições municipais. Até o momento, já foram contabilizadas mais de 500 pré-candidaturas LGBT+ de 25 partidos distintos, abrangendo mais de 300 municípios, números que ilustram o crescente engajamento e a representatividade política das LGBT+.

Esta articulação não é apenas uma estratégia para aumentar a visibilidade das candidaturas LGBT+, mas também uma chamada à ação para os partidos políticos. Investir em candidaturas LGBT+ não é apenas uma questão de justiça social, mas uma estratégia eleitoral inteligente. Ignorar esse potencial é desperdiçar a oportunidade de ampliar a base eleitoral e fortalecer a democracia.

A representatividade importa porque traz diversidade de pensamento, experiências e soluções inovadoras para os desafios sociais. E, no contexto das eleições, importa porque pode transformar a dinâmica política, tornando-a mais inclusiva e equitativa.

Portanto, é crucial que os partidos políticos repensem suas estratégias de financiamento e apoio às candidaturas LGBT+. O sucesso eleitoral de 2022 deve servir como um ponto de partida, não um ponto final. A mobilização histórica para 2024 é uma oportunidade para corrigir as falhas do passado e avançar em direção a um futuro onde a representatividade LGBT+ na política não seja a exceção, mas parte essencial do cenário político brasileiro.

Gui Mohallem, artista visual, é da diretoria executivo da ONG VoteLGBT

gui mohallem

contemporary artist and activist for human rights and LGBT rights in Brazil

https://guimohallem.com
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